sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Olhos Azuis- Como ver com outros olhos.


Sempre quando pensamos em vida em sociedade e em convivência, geralmente, acreditamos que sempre fazemos o bem e somos pessoas “boas”. Muitas vezes temos os "olhos fechados", propositalmente ou não, de forma a levar a acreditar que somos isentos de preconceitos A professora primária norte americana Jane Elliot, produziu um documentário que traduz a realidade e nos alerta sobre a questão do preconceito e discriminação nos quais a sociedade em que vivemos está impregnada, nos envolvendo num sistema perverso. Esse sistema reforça que o diferente passa ser um inimigo e , sempre para defender o que acham certo, “pessoas inteligentes podem ser bastante cruéis”.
         Simplesmente a professora Elliot em seu workshopping repete o exercício feito em sala de aula quando da ocasião do assassinato de Martin Luther King: ela separa alguns dos seus alunos, por um atributo físico inegável, desta vez a cor dos olhos, rotulando-os, e, desta forma fazendo que pessoas que, geralmente sem perceber, cometem discriminação sejam colocadas no lugar de quem sofre todos os dias a segregação.
         O caso explicitado por Elliot, a situação do negro nos EUA, vem se perpetuando mesmo após séculos do assassinato de Abraham Lincoln (Presidente norte-americano que assina a emancipação do negro norte americano) e até mesmo depois de décadas do assassinato de Martin Luther King Jr.(Pastor Batista que lutava pelo direito dos negros norte-americanos durante os anos 60), continua a mesma.
         Uma comunidade envolta em um sistema sócio cultural, onde pessoas são pré selecionadas para conseguirem ou não reconhecimento, onde situações são forjadas para a perpetuação de (pre)conceitos,  e que se repetem de forma a manipular situações para que a elite “branca” permaneça no local de onde nunca saiu, no poder. Tendo também o reforço diário, pois, a discriminação e o racismo são reforçados todo o tempo, desde a mais tenra infância onde as crianças são levadas a acreditar que o jeito "certo" é esse que vivemos. (Lembro-me que quando era criança minha mãe tinha que “espichar” meus cabelos, caso contrário eu era espacanda por meus “coleguinhas” já que trança não era “penteado de gente”).
A pior parte do drama explicitado por Elliot é que todos os dias esse lamentável comportamento é perpetuado, como nos ela nos afirma ao dizer que “a única coisa necessária para perpetuar o mal é que pessoas boas se omitam”.
Trazendo então esta questão para o olhar brasileiro, percebemos também aqui um racismo forte, porém disfarçado de aceitação. Brasil este que,se comparado a outros países é um país relativamente jovem e que teve a escravidão fazendo parte durante muitos anos do nosso cotidiano, legitimada pelas leis em vigor neste periodo histórico, como coisa normal, corriqueira, e que as questões sobre discriminação e racismo não são vistas como deveriam se vistas, desta forma os questionamentos levantados por Mrs. Elliot  são extremamente pertinentes.
O racismo camuflado, no qual as pessoas são levadas a acreditar que não está acontecendo nada de “anormal” em segregar alguem, ou pior, o sistema consegue ser mais perverso ainda: leva o indivíduo que sofre a discriminação  a acreditar que ele é o culpado da situação discriminatória em que vive.
É fácil, para não dizer ridículo, acreditar que em algum momento possamos sentir ou visualizar o que as minorias  que são discriminadas sentem,
As chamadas minorias (neste pacote estão inclusos, índios, negros, mulheres, homossexuais, deficientes físicos e etc.) cada uma delas em uma instância, sem fazer parte do rol de pessoas listadas como “normais”. Conseqüentemente, somente a esses cabem conceber as tão imaginadas ações reparadoras, pois, como mesmo citou Mrs. Elliot. “Não se pode perdoar algo que seja feito a outras pessoas”.
            Concluindo, não é possível negar que a questão racial, que vem sendo colocada como ilusória, é verdadeira, é  a situação inferiorizada em que o negro vem sido visto ao longo destes séculos vem se perpetuando. Também não podemos nos esquecer que a omissão fortalece esse processo de degradação então, cabe a nós como pessoas inteligentes, não permitir que nos tornemos os monstros que a história aponta, por sabermos que a maioria dos preconceitos e genocídios foram feitos por alguém que achava que estava fazendo o que é certo.
Referências Bibliográficas.
ELLIOT, Jane. Olhos Azuis- Disponível em < http//: WWW.filmespoliticos.blogspot.com> .aceso em 17/09/10
 Autores diversos, Racismo Cordial- Folha de São Paulo, Especial,
  SANTOS,Hélio.  A busca de um caminho para o Brasil,

2 comentários:

  1. Texto brilhante!!!!
    Adorei a tematica, muito original nos dias atuais!!!!

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  2. “Pessoas inteligentes podem ser bastante cruéis”.

    Estela, demorei em comentar seu texto porque precisava ler com calma e dar a atenção que ele merecia. Falar em preconceito racial é sempre algo que me toma de forma emotiva. A escravidão e o holocausto são máculas que envergonham a humanidade. E o que mais me aflige nesta questão é saber que os racistas, os homofóbicos e os neo-nazistas ainda circulam no meio de nós. Eles podem estar em qualquer lugar: na fila do banco, do mercado, nos restaurantes, nas ruas, no nosso local de trabalho... Não temos como saber, exceto quando há uma desagradável manifestação de sentimento preconceituoso por parte destas pessoas. Não sei se há uma fórmula mágica para aniquilar esse sentimento. Nem os livros sagrados de todas as religiões foram capazes de apagar a intolerância da face da Terra.

    Uma frase me chamou a atenção no texto: “pessoas inteligentes podem ser bastante cruéis”. Vivemos em uma sociedade onde a inteligência é loira, branca, anda coberta de jóias, roupas e acessórios de marca. Esse é o estereótipo criado. No início da década de 90, quando eu ainda era estudante de Ciências Contábeis, vários colegas comentavam que as grandes consultorias não selecionavam estudantes que moravam em bairros periféricos de Salvador. Quem morava em Fazenda Grande (como eu), Cajazeiras, São Caetano e Subúrbio, não tinham o currículo sequer selecionado mesmo apresentando um excelente histórico escolar. Há preconceito contra o negro, o pobre, o homossexual, a mulher, o deficiente e a lista é interminável. Não sei minha amiga onde vamos parar. Eu ainda tenho a ilusão de ver a desigualdade diminuir e que as pessoas lutem para ter um lugar ao sol. Precisamos que a educação leve à reflexão. Só assim poderemos ter pessoas plenamente inteligentes, dotadas de conhecimento técnico, capacidade intelectual e, principalmente, emocional.

    As pessoas aboliram a educação doméstica, hoje não há respeito. A todo instante vejo pessoas brigando em lugares públicos. Outro dia vi um homem ameaçar uma funcionária de um caixa de um supermercado porque algumas mercadorias tinham preço diferente da prateleira. Como um ser humano emocionalmente doente pode formar outros? A gentileza e a diplomacia estão sendo extintas. As crianças precisam ser educadas por pessoas emocionalmente saudáveis, desprovidas de ódio, de preconceitos e desse excesso de ambição desenfreada que temos hoje em dia. Não há outra saída; ou a sociedade se conscientiza disso ou vamos tomar definitivamente o caminho sem volta da auto-destruição. Seu blog é uma porta aberta para a conscientização e como educadora certamente se esforçará para conscientizar seus alunos a construir uma sociedade mais justa. Eu acredito em pessoas com ideais como você, siga em frente. Parabéns pela iniciativa.

    Abraços Élvia

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