sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A temperatura do conhecimento – Análise do filme Fahrenheit 451.

Por Maria Estela Lage Santos
Até que ponto as lideranças podem interferir na ideologia dos indivíduos que fazem parte de uma determinada sociedade?Qual a importância do pensamento livre e quais as perspectivas para o futuro de uma sociedade que se deixa levar pelos comandos de mercado? Todos esses questionamentos são feitos no filme “Fahrenheit 451”, filme baseado no conto fantástico de Ruy Bradbury, lançado em 1966 (no pós Guerra, em meio a chamada “guerra fria”) que, apesar de ser pensado na sociedade que se ambientava numa realidade diferente a que vivemos hoje, muitos questionamentos á ela apresentados ainda são válidos atualmente.
         Em “Fahrenheit 451”, o personagem central, Montag, é bombeiro (profissão que tem outra função neste futuro incerto: queimar a ameaça chamada livro e manter a ordem segundo as leis vigentes nesse país). Os livros seriam proibidos por que instigariam as pessoas, fazendo-as questionar, e desta forma tornando-as infelizes. Montag é casado e sua esposa, Linda, é uma pessoa totalmente fútil, e ligada á esse sistema de coisas se deixando manipular ao assistir e acreditar nos programas televisivos, nos quais com ela é feita uma suposta interação.
Ele é subordinado de um chefe que justifica e estimula-o a acreditar neste sistema, ou seja, a privação de acesso ao conhecimento, justificado pelo “cuidado” de um governo no qual, todos são uma “grande família” (os primos). Deste modo a produção intelectual é vista como ameaça emocional e sociocultural. Montag até esse momento do filme não se questiona, eternizando este ciclo no qual ele é apenas mais uma peça desta engrenagem.
Porém ao chegar em sua casa, em determinada ocasião, e encontrar sua esposa desmaiada na sala, e perceber que ao técnicos que á atenderam sequer sabiam o que estavam fazendo, Montag começa a se questionar, e após seu encontro com sua vizinha, professora primária, e presenciar uma senhora ser queimada viva com os livros a quem tanto desprezava,Montag começa á se examinar e a ler os livros que até então ele simplesmente queimava.
Deste momento em diante, mesmo após ser denunciado pela esposa e se ver perseguido como antes perseguia, Montag passa a conviver com pessoas pensantes e descobre que o importante não são os livros (objeto), mas a liberdade de se poder escolher uma ideologia e experimentar os diversos conhecimentos que serão difundidos.
Importante salientar, que, a propaganda e a cauterização mental feitas pelo marketing deste sistema de governo deste lugar fictício, são contundentes e uma forma de manter esse sistema sociocultural exatamente como está: as pessoas sem o direito de acessar ao tão valioso conhecimento. E também a importância dos intelectuais nesta sociedade, e na nossa sociedade, são confrontadas. Os intelectuais, representados nos livros queimados, não são a única fonte de esclarecimento. São apenas um dos vários instrumentos para o desenvolvimento dos saberes.
 Com isso Fahrenheit 451 nos faz analisar toda a nossa estrutura social, a forma como vemos os filósofos e como nos posicionamos em relação a tudo que temos visto e ouvido.