sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A meu irmão, Wanderley ,quem vou sentir muito a partida

Corpo e Alma

Kleiton e Kledir

Quando eu era assim
Bem menor
Não tive afim, sei lá
De pensar em nós
Agora eu sei e entendo melhor
Vidente eu li no céu
Vai por mim, somos corpo e alma
Meu irmão, meu par

Quando a solidão
Se enredar em ti
E o coração dançar
Conta comigo
Eu quero estar, viu
A teu lado
E haja o que houver
Junto a ti, feito corpo e alma
Meu irmão, meu par
Sei que a vida vai aprontar
E o que vier, azar
A dois é fácil segurar
Se Deus deixar, viu
Meu amigo
Vou sempre estar aqui
Junto a ti, feito corpo e alma
Meu irmão, meu par

Wanderley Lage Correa  (25/12/1966 - 18/02/2011)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Olhos Azuis- Como ver com outros olhos.


Sempre quando pensamos em vida em sociedade e em convivência, geralmente, acreditamos que sempre fazemos o bem e somos pessoas “boas”. Muitas vezes temos os "olhos fechados", propositalmente ou não, de forma a levar a acreditar que somos isentos de preconceitos A professora primária norte americana Jane Elliot, produziu um documentário que traduz a realidade e nos alerta sobre a questão do preconceito e discriminação nos quais a sociedade em que vivemos está impregnada, nos envolvendo num sistema perverso. Esse sistema reforça que o diferente passa ser um inimigo e , sempre para defender o que acham certo, “pessoas inteligentes podem ser bastante cruéis”.
         Simplesmente a professora Elliot em seu workshopping repete o exercício feito em sala de aula quando da ocasião do assassinato de Martin Luther King: ela separa alguns dos seus alunos, por um atributo físico inegável, desta vez a cor dos olhos, rotulando-os, e, desta forma fazendo que pessoas que, geralmente sem perceber, cometem discriminação sejam colocadas no lugar de quem sofre todos os dias a segregação.
         O caso explicitado por Elliot, a situação do negro nos EUA, vem se perpetuando mesmo após séculos do assassinato de Abraham Lincoln (Presidente norte-americano que assina a emancipação do negro norte americano) e até mesmo depois de décadas do assassinato de Martin Luther King Jr.(Pastor Batista que lutava pelo direito dos negros norte-americanos durante os anos 60), continua a mesma.
         Uma comunidade envolta em um sistema sócio cultural, onde pessoas são pré selecionadas para conseguirem ou não reconhecimento, onde situações são forjadas para a perpetuação de (pre)conceitos,  e que se repetem de forma a manipular situações para que a elite “branca” permaneça no local de onde nunca saiu, no poder. Tendo também o reforço diário, pois, a discriminação e o racismo são reforçados todo o tempo, desde a mais tenra infância onde as crianças são levadas a acreditar que o jeito "certo" é esse que vivemos. (Lembro-me que quando era criança minha mãe tinha que “espichar” meus cabelos, caso contrário eu era espacanda por meus “coleguinhas” já que trança não era “penteado de gente”).
A pior parte do drama explicitado por Elliot é que todos os dias esse lamentável comportamento é perpetuado, como nos ela nos afirma ao dizer que “a única coisa necessária para perpetuar o mal é que pessoas boas se omitam”.
Trazendo então esta questão para o olhar brasileiro, percebemos também aqui um racismo forte, porém disfarçado de aceitação. Brasil este que,se comparado a outros países é um país relativamente jovem e que teve a escravidão fazendo parte durante muitos anos do nosso cotidiano, legitimada pelas leis em vigor neste periodo histórico, como coisa normal, corriqueira, e que as questões sobre discriminação e racismo não são vistas como deveriam se vistas, desta forma os questionamentos levantados por Mrs. Elliot  são extremamente pertinentes.
O racismo camuflado, no qual as pessoas são levadas a acreditar que não está acontecendo nada de “anormal” em segregar alguem, ou pior, o sistema consegue ser mais perverso ainda: leva o indivíduo que sofre a discriminação  a acreditar que ele é o culpado da situação discriminatória em que vive.
É fácil, para não dizer ridículo, acreditar que em algum momento possamos sentir ou visualizar o que as minorias  que são discriminadas sentem,
As chamadas minorias (neste pacote estão inclusos, índios, negros, mulheres, homossexuais, deficientes físicos e etc.) cada uma delas em uma instância, sem fazer parte do rol de pessoas listadas como “normais”. Conseqüentemente, somente a esses cabem conceber as tão imaginadas ações reparadoras, pois, como mesmo citou Mrs. Elliot. “Não se pode perdoar algo que seja feito a outras pessoas”.
            Concluindo, não é possível negar que a questão racial, que vem sendo colocada como ilusória, é verdadeira, é  a situação inferiorizada em que o negro vem sido visto ao longo destes séculos vem se perpetuando. Também não podemos nos esquecer que a omissão fortalece esse processo de degradação então, cabe a nós como pessoas inteligentes, não permitir que nos tornemos os monstros que a história aponta, por sabermos que a maioria dos preconceitos e genocídios foram feitos por alguém que achava que estava fazendo o que é certo.
Referências Bibliográficas.
ELLIOT, Jane. Olhos Azuis- Disponível em < http//: WWW.filmespoliticos.blogspot.com> .aceso em 17/09/10
 Autores diversos, Racismo Cordial- Folha de São Paulo, Especial,
  SANTOS,Hélio.  A busca de um caminho para o Brasil,

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A Flor da pele

Por Ulisses Tavares
As cores eram levadas muito a sério em fulgor, oitavo planeta que orbitava em torno de estrela Radex.
No inicio, isso tinha sua razão de ser, porque os vermelhos eram escravizados pelos seres azuis, e o controle ficava facilitado.
Mas, com a evolução, muitos azuis começaram a achar injusta a escravidão. Afinal, fora a cor da pele, eram criaturas iguais em qualidades e defeitos.
Mesmo assim, se, na prática, a escravidão acabou, os vermelhos continuaram a enfrentar um tipo de escravidão mais difícil de ter fim: a do preconceito.
Com uma freqüência alarmante, os vermelhos viam-se impedidos de entrar em alguns lugares, de exercer determinadas profissões e, quando o amor rompia barreiras,como só o amor sabe fazer– sem pedir licença – muitos censuravam a mistura de vermelhos e azuis.
E mais: certos vermelhos consideravam-se inferiores, como conseqüência do longo tempo de humilhação.
Foi então que o acaso trouxe uma terrível doença, que, não se sabe por que, atingia os azuis, poupando vermelhos.
Como os vermelhos pareciam imunes à peste, os cientistas concluíram que a melhor maneira de deter a doença seria os azuis receberem transfusão de sangue dos vermelhos.
Assim foi feito, e, logo, ninguém mais morria da praga misteriosa.
Entretanto, essa atitude teve um imprevisto efeito colateral: os vermelhos começaram,pela primeira vez na história de Fulgor, a dizerem-se superiores aos azuis, por serem os únicos a carregar, no próprio sangue, a imunidade salvadora.
Iniciaram um processo de escravidão dos azuis, que, com o orgulho alquebrado e medo de não receberem mais a transfusão de sangue, deixaram-se dominar.
Novamente, o destino interveio, e uma outra peste abateu-se sobre Fulgor,desta vez atingindo os vermelhos.
Chegou a vez dos azuis cederem seu sangue para os vermelhos.
Com tanta mistura, a natureza provocou uma estranha transformação na cor dos seres: muitos azuis adquiriram uma coloração de pele vermelha, e muitos vermelhos acordaram azuis.
É evidente que se tornou inútil insistir na escravidão de uns pelos outros,já que ninguém podia garantir que era vermelho – como também ninguém estava certo se um azul era azul ou era vermelho e  ficara azul.
Hoje passada muitas gerações,riem os habitantes de Fulgor,principalmente os mais novos, ao lerem que houve  épocas em que azuis escravizavam vermelhos e vermelhos dominavam azuis.
Afinal, Fulgor inteiro já sabe – como sabem também as mais avançadas civilizações em todas as galáxias – que não existem diferenças entre azuis e vermelhos. Somos todos arco-íris.

FONTE: TAVARES, Ulisses. Fábulas do Futuro, São Paulo: Editora do Brasil, 2001, p.57 a 59.